sábado, 9 de dezembro de 2017

é para a vida que um rosto se vira

nascemos para a morte para sermos
um instrumento para a vida
assim o canto do melro a cortar
as trevas da noite         a onda um lençol
cobrindo as marcas dos corpos
dos amantes nas suas contorsões de despedida
lâminas vegetais pelas negras fracturas
o mudo grito da vagina e a água matricial
para a nossa vinda aquática         o interesse
no olhar do gato no para lá
de uma invisível fronteira de areia
ohno kazuo persistindo na dança após um século
quando já o corpo dava de si abraçando a paralisia
também nós teimosamente          como
o secretamente sabemos           fechando os olhos
arrastando o cadáver de uma relação
mesmo face ao desenlace é para a vida
ainda que o rosto se vira
vendo a morte estendendo os braços
para o beijo que leva o sopro
de retorno à vida

Berlim - Bad Meinberg


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