sábado, 16 de setembro de 2017

Galway Kinnell - Flor de Galinha (cont.)


3
Quase alto
em diminuta gravidade, permaneço a caminhar,
uma flor-de-galinha
pendurada da minha mão,
asa
da minha asa,
dos meus ossos e veias,
da minha carne
todos os meus pêlos eriçando-se na primeira brisa espectral
depois da morte,

asa feitas apenas para o voar – incapaz
de escrever as mágoas de ser incapaz
de segurar alguém nos seus braços – e incapaz
de voar,
esperando, então,
pelo fulgor doce e eventual nos genes,
que um dia, de acordo com o evangelho, a levará de volta
a céus de rosa, onde gansos
atravessam ao crepúsculo, buzinando
em línguas.

4
Entrevi
à luz morta, no aberto cadáver
de galinha, a massa nascitura
de minúsculos ovos, cada um
diminuindo e amarelecendo à medida que retorna
à polpa gelada
do que é, senti o zero
a se congelar em torno do dedo lentamente mergulhado nela.


in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Miffli Company, 1971: 12-13.

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