terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

para habitar a comunidade ou justo o amor

não haverá nunca uma vida que entenda
uma vida       a ínfima fibra
secretamente exposta       dada
à carícia à usura

nada dizes e sentes
a raiz da noite e a seda do vento
por sobre os olhos e rosto
atendendo a primavera

escura é uma boca que procura
o nome que não há e assombra
e do medo semeia o tempo para
o sonho de perdurar depois de tudo

mas estrelas talco arroz são
do mesmo pó da tua pele
tinir de outro tom
nódulo em outra corda

conheces       contaram-te quando ainda a palavra
ladeava o mundo e se impunha
altiva       farol em fraga brava
o desnudar da glória       mas do fruto

ateou-se a candeia do ego
soberano que põe e depõe cada tom e corda o
pó       cada expressão ficando
sob a sua vontade       já nada

te assegura       os mitos estão ocos
e o sono chega pela meia-
-noite do homem
procuras ainda a distância

de toda a proximidade       o corpo a
corpo que lentamente enlaça a fibra
repara o entendimento é um acaso
como a palavra justa ou justo o amor

quando por estes caminhos andas e
tocas com o olhar a pedra
a árvore a ave o cão
a mulher a quem te fidelizaste

vês ainda o lume da glória rutilante
em tudo que te rodeia      sabes então
não é um corpo o que obsta o encontro do ínfimo
antes o rei que recusa a renuncia ao reino
para habitar a comunidade ou justo o amor

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