segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Casa Escura



Esta é uma casa escura, muito grande.
Fi-la eu própria,
Cela a cela de um canto silencioso,
Mastigando o papel cinzento,
Exsudando as gotas de cola,
Soprando, serpeando os meus ouvidos,
Pensando noutra coisa qualquer.

Tem tantas caves,
Tantas cavidades de enguia!
Sou rotunda como uma coruja,
Vejo pela minha própria luz.
Mais dia menos dia paro cachorros
Ou dou à luz um cavalo. A minha barriga move-se.
Tenho de fazer mais mapas.

Estes túneis medulares!
De espada em punho, como o meu caminho.
O tagarela lambe os arbustos
E as panelas de carne.
Ele vive num velho poço,
Um buraco empedrado. É dele a culpa.
Ele é um tipo gordo.

Cheiros de seixo, quartos de nabo.
Respiram pequenas narinas.
Humildes pequenos amores!
Frívolos, desossados como narizes,
É morno e tolerável
No intestino da raiz.
Eis uma mãe de peluche.


in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

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