Comido ou apodrecido. Eu sou só boca.
Outubro o mês do armazenamento.
Esta cabana é bolorenta como o estômago da mamã:
Velhas ferramentas, pegas e presas ferrugentas.
Estou em casa aqui entre cabeças mortas.
Deixem-me sentar num vaso,
As aranhas não darão conta.
O meu coração é um gerânio impedido.
Se ao menos o vento deixasse os meus pulmões em paz.
O pau-para-toda-a-obra cheira as pétalas. Elas florescem de cabeça para baixo.
Chocalham como arbustos de hidrângeas.
Consolam-me cabeças moldadas,
Pregadas ontem às vigas:
Cativos que não hibernam.
Cabeças de couve: púrpura bichento, brilho prateado,
Uma indumentária de orelhas de burro, couro bafiento, mas de âmago verde,
As suas veias brancas como gordura de porco.
Oh a beleza do uso!
As abóboras laranjas não têm olhos.
Estes corredores estão cheios de mulheres que se julgam pássaros.
Esta é uma escola aborrecida.
Sou uma raiz, uma pedra, um vómito de coruja
Sem sonhos de qualquer tipo.
Mãe, tu és a única boca
Da qual eu seria a língua. Mãe da outridade
Come-me. Bocejo de caixote do lixo, sombra de vão de portas.
Eu disse: devo lembrar-me disto, ser pequena.
Havia tão grandes flores,
Púrpura e rubras bocas, completamente amorosas.
Os aros das hastes das amoras fizeram-me chorar.
Agora iluminam-me como uma lâmpada.
Durante semanas lembro nada de nada.
in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems
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