domingo, 7 de agosto de 2016

Quem


O mês da floração terminou. O fruto está plantado,
Comido ou apodrecido. Eu sou só boca.
Outubro o mês do armazenamento.

Esta cabana é bolorenta como o estômago da mamã:
Velhas ferramentas, pegas e presas ferrugentas.
Estou em casa aqui entre cabeças mortas.

Deixem-me sentar num vaso,
As aranhas não darão conta.
O meu coração é um gerânio impedido.

Se ao menos o vento deixasse os meus pulmões em paz.
O pau-para-toda-a-obra cheira as pétalas. Elas florescem de cabeça para baixo.
Chocalham como arbustos de hidrângeas.

Consolam-me cabeças moldadas,
Pregadas ontem às vigas:
Cativos que não hibernam.

Cabeças de couve: púrpura bichento, brilho prateado,
Uma indumentária de orelhas de burro, couro bafiento, mas de âmago verde,
As suas veias brancas como gordura de porco.

Oh a beleza do uso!
As abóboras laranjas não têm olhos.
Estes corredores estão cheios de mulheres que se julgam pássaros.

Esta é uma escola aborrecida.
Sou uma raiz, uma pedra, um vómito de coruja
Sem sonhos de qualquer tipo.

Mãe, tu és a única boca
Da qual eu seria a língua. Mãe da outridade
Come-me. Bocejo de caixote do lixo, sombra de vão de portas.

Eu disse: devo lembrar-me disto, ser pequena.
Havia tão grandes flores,
Púrpura e rubras bocas, completamente amorosas.

Os aros das hastes das amoras fizeram-me chorar.
Agora iluminam-me como uma lâmpada.
Durante semanas lembro nada de nada.


in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

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