1.
é sempre um retorno à memória que aqui me traz
o debater de uma imagem vibrando de afectos
soltando-se da sua rede até tomar conta do espaço
em que habitas dentro do meu peito
lá fora trovejava como as despedidas nos corações
e segurando entre mãos o teu rosto pelos teus lábios
rodava a língua – são estas ou outras
palavras perdidas
que me visitam no empoado espelho
onde te refletes
e nada foi nada terá sido e amarrado
pelo ouvido Ulisses
se ilude e somente sofro uma recaída
neste vício da escrita
– a cama revolta e olhos
fechando-se para o dia
antes da partida de Abril
lembro ainda como as mãos
enovelando-se
desteciam dedo a dedo a tremura
do teu corpo – por ele subia
uma onda rebatendo
pelas falésias que são as gargantas
emudecidas
e era o teu nome com raiz de estrela que soçobrava
todos os outros nomes que tornaram o meu rosto uma espera
e a pele uma escrita oferecida à vida e ao toque do teu corpo
e assim crava-se fundo a tua imagem
como a adaga de um terrível amor
no anonimato antropófago dos lençóis
e escrevo tarde e a tinto a letra para encurtar
a distância
entre o oeste onde o mar
murmura justo à cama
ao centro da planície onde
avanças como uma vanguarda
abrindo caminho ao futuro
(o meu o teu por vir)
enquanto me alapo às tuas costas
seguindo as tuas pegadas que se afastam
a vida que tento numa escrita permanece
desconhecida
é só mais um tijolo na muralha
de papel um nome no barro
onde os dedos mergulham
misturando memória imagens o gosto
(escreve escreve) de cifrar um mundo
ligando palavras ou vidas
como tu por exemplo
tu e a cicatriz na palma da mão os desgostos
aluados
sob o olho e tu a ruga ao canto da boca e tu de novo
e tu (sendo agora eu a mim que falo) jazerás na fronteira
anónimo
onde nunca teu nome na muralha de papel terra de pó
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