domingo, 14 de fevereiro de 2016

De Berlim a Lisboa XI

Bragança, Porto

ficava suspensa e'spelhada
a planura de chuva e língua
onde nós não quiséramos medrar
havia um projecto a cumprir
traçando entre realidade
e desejo um território
fomos nómadas pelas estradas
do granito órfão entregue ao
esquecimento e retornando
lentamente à língua usada
quando só a voz no pensamento
ou para refregar o coração

tu denodavas o desânimo
ártico e pelos passos sob o
sol vi o teu corpo enlevar-se
e o sorriso ostracizado
abrir-se doando as pérolas
assisti um novo nascimento
esperança fora da mortalha
onde este amor se acercou
como testemunha amparando
a mão moribunda ou prestes a
abandonar-se a seu lado em
exaustão decidida mas nunca

lancei a toalha ao chão senão
para me desnudar a teus olhos
eis dois lázaros solevantados
sacudindo os trapos mórbidos
da tristeza e do fastio para
conquistar a invicta ao chegar
buscámos valhacouto no monte
cativo um menor paraíso
tornado aos poucos um inferno
roubando-nos a privacidade
suspendendo a intimidade
pedida pelos corpos sedentos

primeiro e depois com o comum
mal-entendido que prevalece
sendo o oposto um acaso
porém entre tormentas vogámos
pelas colinas de casas baixas
palacetes e ruelas onde
estava o lar de uma outra
vida que teremos noutro mundo
entre o rio e eléctricos
bebemos ao que virá e passou
preparámos a ceia sabendo
próxima a última etapa

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