Valladolid, Burgos
o tempo deixou aqui a sua pátina
uma terra infértil onde caminham
corvos
gralhas debicando altivos os restos da revolução
do arado exumando restos de ossos palha
cascas
de sementes ou carochas
necrófagas pelo lixo de plástico
sacos garrafas latas as armas
da nossa arrogância e ódio à natureza
do céu uma morrinha incansável livrando burgos
aos seus e a nós esfomeados e com o dever
para com as nossas sombras igualmente necessitadas
de pisar o chão ou dar à terra com que criar nova vida
tal como em château-thierry subimos para junto das águias
e do alto sobrevoámos pelo miradouro a vista
até sermos
tomados pela vertigem do feio
que o tempo dirá
de outro modo
não havendo mais que a vontade
sustivesse ou a paciência nos pedisse
seguimos o embalo
de uma pressa que nos tomava conta e com subtileza
ditava as novas regras do jogo estendendo-se por esse território
que é
o corpo cansado pelas expectativas goradas
nos percursos tortuosos
percorridos lentamente
perfazendo uma lonjura interminável
ainda hoje palmilhada
e iniciada antes desta viagem
impondo os nossos
encontros e desencontros
os mesmos e outros silêncios
como os de nenhuma resposta e esperar a chegada do sol
uma chave uma hora enfim permitindo que nos dispamos
destas
roupas e espinhos e encontremos por momentos
nessa casa
de catálogo uma bonança quando tantos quilómetros
ainda
nos separam do destino e esta ansiedade dobra o mundo
mal
nos deixa respirar ou imergir por inteiro nessa estranha luz
envolvendo valladolid ou o parque junto ao rio onde nos saiu a multa
por ocuparmos demasiado espaço no pouco tempo que ficámos
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