sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

rui almeida - 5 poemas

(acaba de chegar e para aqui vão)

7.

Assim, aqui
Onde nada repete outro tempo,
O sopro amplia a permanência
Do mais compacto gesto

*

8.

Alguém aprende
A reconhecer
As mãos pelo tacto:

Surpreende-se
Com linhas de textura
Que não as da pele.

Entre a espera e o cerco
Há a intenção da demora
Para habituar o movimento
À forma estável.

E quando se ascende
Ao desafio do encontro,
Algo alheio atinge a sensibilidade
E ali fica.

*

11.

A paciência conhece o tempo da espera,
Arruma-o
Junto aos destroços de velhas torres de vigia
Que habita sem transformar.

*

19.

As pequenas mãos que ignoram
A vida dos frutos
Colhidos antes do tempo
São inocentes e agem
De acordo com uma presença
Terna.
Brincam essas mãos
Sem saberem ainda
Da força da maturidade.

*

20.

Um golpe na pele
Como um abismo onde
O desamparo cresce para dentro.

Um golpe justo a deixar
Que as noites sejam tensas,
Rigorosas
Em sua escuridão propícia
À fertilidade.

in Rui Almeida, Caderno de Milfontes, Nazaré, Volta d'mar, 2011: 15, 16, 19, 28 e 29.

4 comentários:

Anónimo disse...

=)

fernando machado silva disse...

ainda bem que gostaste, agora só falta pedires o livro à volta d'mar (eheheh).

ruialme disse...

Muito obrigado pela leitura, pela divulgação e, em particular, pela curiosa construção a partir de versos do livro.
É bom saber q os poemas são acolhidos.
Obrigado.

fernando machado silva disse...

caro rui,

obrigado, mas não tens nada de agradecer. gosto de ajudar as edições de autor, ou quase (neste caso uma nova editora). só temo que a minha maldição não estrague a publicidade, porque eu sou uma espécie de midas invertido.

um abraço